8 de setembro de 2010

O dom e a maldição dos escritores


oje quero falar um pouco sobre o que é "ser escritor".
O dom de um escritor, do meu ponto de vista, é a sua capacidade de absorver informações de fontes variadas, e criar algo a partir delas.
As palavras-chave aqui são duas: "absorver" e "criar"
"Absorver" é essencial porque é impossível (assim mesmo, de forma absoluta) produzir algo sem o insumo apropriado. Semente sem luz, terra, sol e ar não germina. Da mesma forma, é absurdo supor que alguém pode escrever algo sem que tenha 'absorvido' algo antes. Já avaliei muitas histórias de escritores iniciantes que "não gostam de ler livros", e por mais que as idéias sejam boas - a maioria das vezes não o são - a falta de familiaridade com a linguagem dos livros sempre gerou resultados aquém do mínimo esperado. "Escrever é fácil: Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca idéias." Pablo Neruda
"Criar" é o coração da escrita. Se vou escrever algo, é obrigatório que seja algo original. Por mais que escrever seja apenas começar com uma letra maiúscula e terminar com um ponto final, se você não tem idéias para colocar no meio, não adianta. Para que escrever mais um livro sobre vampiros, ou com elfos, anões e feiticeiros malignos? Se a idéia não for criativa, não tiver pelo menos um ângulo inovador, não perca seu tempo escrevendo. De novo: Leia sempre, pois a leitura não é só necessária para o conteúdo, mas amplia os horizontes das idéias!
Curiosamente,
o dom é a maldição de todo escritor.
Ao se preparar para escrever algo novo, ou mesmo durante o processo de escrita, é comum o escritor abusar de seu lado de "absorver", buscando não só referências de informação como também estilísticas. Para o livro que estou terminando, por exemplo, li alguns livros do Neil Gaiman para buscar referências de estilo para três capítulos, li centenas de páginas de livros de história (reais e virtuais) para as bases dos demais capítulos, e vi diversos filmes como "referência sentimental" (a idéia é que a pessoa termine o livro com o mesmo sentimento que alguns filmes me provocam). Para o próximo livro, já li dois livros, e estou no meio de outros dois, que falam sobre o Inferno e sua, digamos, "geografia".
Ora, ninguém consegue aprender qualquer coisa sem sofrer as consequências.
Como um ator que "entra no personagem", o escritor entra em sua história, e passa a sonhar com ela, viver a dor de cada personagem, a se angustiar porque a saga ainda não terminou. Atualmente tenho sonhado com infernos, anjos, demônios e outros habitantes destas zonas. Quem me acompanha no twitter pode ter estranhado alguns pios com tom quase "religioso", falando de sombras e nossa relação com elas... Pois é, isso faz parte da maldição, da necessidade de colocar as ideias no papel, sabendo que esta é a única maneira de fazer com que elas saiam da cabeça!
Especialmente quando estou no final de um livro (como agora), tenho que tomar um grande cuidado para não ficar irascível e angustiado - afinal, minha família e meus amigos não precisam sofrer junto comigo!
Pois então, falei. Estou neste momento pré-parto - perdoem-me desde já pelo mau humor, faz parte da maldição. Ou do dom, se assim preferirem
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11 comentários:

Flávio Nunes. disse...

Olá Alexandre,
Comungo em gênero, número e grau com o seu texto! Contudo, ouso dizer que há um fator importante no meu ato de "criar", que é a "vivência" daquilo que desejo colocar no papel. Mesmo quando escrevo algum texto cuja atmosfera é um "mundo fantástico"! Além das leituras que faço e do esforço para gerar algo novo, tento viver, na medida do possível, o que escrevo!
Sem mais no momento, desculpa se exagerei ou falei algo equivocado!
Abração,
Flávio Nunes.

Ana disse...

Oi, Lobão, tudo bem?

Sou uma autora que escreve sobre elfos e feiticeiros malignos (faltam os anões e os vampiros), mas que mesmo assim gostou de ler suas ponderações. ;)

Prazer em conhecê-lo e a seu blog. Voltarei qualquer hora.

Abraços!

Ana Lúcia Merege

Anônimo disse...

Bom post e parabéns pelos seus livros.

Alexandre Lobão disse...

Oi Ana!
Sou um grande fã de livros de Fantasia e FC - inclusive, estou planejando alguns livros nesta linha para o ano que vem, se tudo der certo!
O que eu não gosto são os livros "de massa", cheios de clichês e sem conteúdo. Minha estante tantos livros de Vampiros e Elfos quanto livros, digamos, mais "cabeças"... :) O importante é o escritor saber escrever bem!
Afinal, não é à toa que os ingleses falam que há dois tipos de pessoas: as que já leram Tolkien, e as que ainda vão ler!
Parabéns pelo seu trabalho -http://estantemagica.blogspot.com!
[]s

Sueli disse...

Sorvo sôfrega seus posts. Tenho dificuldade em escrever ficção, estou na fase de treinamento, escrevendo e escrevendo, sem coragem de mostrar. Obrigada por ser meu professor. Abração

Parreira disse...

Entendo perfeitamente o que vc diz aqui, Lobão!

Fernanda Coelho disse...

Fase de pré-parto foi ótimo. Ri bastante aqui.

Realmente o final da história é angustiante. Digo porque passei por isso há pouco tempo. Queremos escrever um final que seja bom, coerente, que deixe um sentimento legal e que faça jus ao personagem. Sofremos com ele e a família acaba percebendo isso. Levei quilos de broncas do meu marido nos dias em que estava para terminar a minha história. Até que um dia ele se encheu de mim e disse: Sente o seu traseiro naquela cadeira e termine essa história logo, pra gente voltar a ter uma vida normal. rsrs.

Amei o texto.
Abraços

maria dudah senne disse...

sempre estou por aqui. aprendo muito com vc. espero sua visita. sucesso!

Alexandre Lobão disse...

Grato pela força, Maria Dudah!

É uma honra receber não apenas sua visita, mas também um elogio destes!

Visitei seu blog, gostei das informações mas deu um erro em meu navegador; sugiro que você configure para ter um número máximo de postagens na primeira página; assim fica mais "leve" para carregar e dá menos problemas.

Saúde, Paz e Sucesso!

beronique disse...

Muito relevante mesmo suas dicas,atualmente estou escrevendo um conto sobre o holocausto que já me deixou sem conseguir dormir com as fontes que tenho usado para basea-lo e a historia densa que acabei criando. Mas pelo menos com os contos eu tenho sorte, consigo termina-los, porém tenho muita dificuldade em conseguir finalizar historias longas, pois elas acabam virando uma espécie de "companheiras" e tenho muita dificuldade com "despedidas", rsrs.Já li num livro da S. Belloto sobre criar esse esquema da historia antes de inicia-la para saber tudo o que você fará nela, mas sempre acabo por me embananar, droga...rs

Ademais, parabéns pelo blog e continue nos presenteando com ótimos posts como esse!

Abraços!

Rejania Santiago disse...
Este comentário foi removido pelo autor.